ELA
Autor : Drin, L. P.
Eu a vi novamente.
Parada, com longos cabelos enegrecidos, e um vestido tão sombrio quanto a mais profunda e densa noite. Lá estava Ela. Sua face pálida, doentia, de cor marfim e solidez tão real quanto esta cama em que me deito...
Encarei-a.
Os olhos inexpressivos, a pele mórbida e o semblante soturno. Não desviei meu olhar de sua feição. Porém, nada fez; como sabia que o faria. Apenas fitou-me em mudez plena, sem uma palavra, sem um som. Minha calma respiração e o pulsar do meu coração ecoavam por todo o quarto. Frio, lúgubre e vazio.
Mas Ela continua a vir... Todas as noites.
Passei a acordar durante as madrugadas para encontrá-la estática em minha porta. No começo, me sentia aterrorizada. Tentei, de início, fechar meus olhos e me cobrir com os lençóis, como uma criança assustada, esperando que o monstro que imaginou desapareceria como mágica... Mas estou muito velha para isto.
E, com o advém da aurora, Ela desaparecia.
Não obstante, nas noites seguintes, Ela continuava a me ver. Procurei conversar com Ela, perguntar quem, ou o que queria de mim. Contudo... De nada adiantou, pois Ela continuou imóvel e perpétua, observando-me à soleira da porta. Como se estivesse... Esperando.
...
Ela retornou hoje.
Minha única visitante. A única a se lembrar de mim. E sozinha, por todo este tempo, também estive aguardando por Ela. Pois, assim como minha convidada, também encontro-me imóvel, porém longe de perpétua. Ela aproximou-se de mim. Veio até o meu leito. Suas longas e esqueléticas mãos tocaram a minha face. E a principio, o que imaginei ser gélido e nauseante, tornou-se quente e reconfortador. Como uma sensação acolhedora que se adentrava em minha alma.
E Ela se foi, junto com o último sopro de vida que havia em mim, para deixar somente o meu corpo esquecido; apaziguado nesta cama de hospital.