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CONFINAMENTO

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Autor: Drin, L. P.


Eu me vejo.

Vejo meus olhos desorientados no meio da escuridão. Como uma criança perdida no meio de estranhos. Sei que estão aqui, aqui comigo. Não me lembro de quando começou. Talvez porque nas primeiras noites pareciam sonhos. Sonhos que se confundiam com a realidade. Como uma droga que perde o seu efeito conforme o passar do tempo. Sim... E com o tempo, a realidade intensifica-se. E com isso, percebo que há formas. Formas que transitam por toda a minha volta. Ousam cada vez mais, como se ganhassem confiança. Agora estão por toda a parte. Não posso realmente vê-los. Sei disso. Mas posso senti-los. Como alguém que sente o cheiro que precede a chuva. Sim, não posso vê-los, mas eles estão aqui. Estão aqui comigo...

Eu me vejo.

Vejo minha ânsia e desespero em descobrir o que querem de mim. Vejo minhas respostas se mostrarem infundadas. Tento, de todas as formas, entender, mas não consigo. Não falam comigo, porém sei que estão por perto. Vigiando, esperando, observando. Observando minha sanidade esvair-se conforme as noites ininterruptas de horror avançam. Almejam por isso. Divertem-se com isso. Tudo não passa de apenas um jogo. Não vão parar até que minha mente se esvazie, e o medo domine todos os meus sentidos. Temo que não haja coisa pior, nem mesmo a própria morte. Não quero me perder no mundo deles. Não aguento mais isso. Quero a realidade, por mais difícil que ela possa ser. E por isso preciso sobreviver. Sim, preciso...

Eu me vejo.

Vejo minhas pernas correrem. Vejo que estão atrás de mim. Perceberam que não vou ceder à vontade deles. Perceberam que prefiro arriscar a própria morte a continuar com esta tortura. Estão me segurando. Não tenho mais esperanças. Não os vejo. Mas estão me segurando. Minhas mãos foram colocadas para trás. Tenho sangue por todo o meu corpo dolorido. Eles são mais fortes do que eu. Maiores. Não terei outra chance. Já se divertiram. Já conseguiram o que queriam. Já brincaram com o meu corpo por tempo o suficiente para que não restasse nada. Não havia mais o que ser feito. Eu não os via. Mas via a mim mesma. Via meus pulsos partirem-se ao meio. Via minha barriga se afundar por pancadas. Via minhas últimas forças esvaírem-se em um grito fraco. Via minha mandíbula quebrar-se e o vomito de sangue escorrer pelo o que sobrava da minha boca. Via meu corpo ser largado ao chão...

Eu me vejo.

Vejo-me da mesma forma que me deixaram. Não há mais nada a ser feito. Nenhuma lagrima a ser derramada. Porque não sobrou nada dentro de mim. Apenas o horror desta última lembrança. Vejo apenas a mim mesma e os tormentos que passei. Pois sei que não queriam que eu os visse. Sabia desde o início. Quando colocaram uma venda sobre meus olhos.

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