CHUVA
CHUVA
Autor : Drin, L. P.
Perguntam-me por que gosto da chuva.
Desde pequeno, sempre sentia na chuva um alívio. Um doce conforto na leve fragrância deixada na atmosfera. É claro. Hoje sei que este odor característico provém da reprodução de bactérias que hibernam no solo, e que todos os fenômenos que acercam meus sentidos tenham suas remotas origens na mais perfeita e ordenada química. Como o véu de lágrimas que cobre a noite. Como o relâmpago que advém a tempestade e silencia o meu mundo. Como o orvalho que antecede a aurora...
Sim... Belezas que somente na mais pura e inocente das visões é que se fazem tão belas.
Mas não é somente por isto que me sinto deslumbrado pela chuva. Pois também encontro outros prazeres no gotejar cintilante que provém dos céus, como aquele que, em espaços urbanos, recai sobre a calha de meus telhados. Ou quando, acompanhado do vento, rebate-se contra a vidraça de minhas janelas. E mesmo fora de meu confinamento, onde me vejo face a incrível paisagem natural, o seu despencar (sonolento ou enraivecido) sobre a copa das árvores que amortecem o som de todo o ambiente, tornam a experiência algo extraordinário, algo único.
Ahh... É tudo tão primoroso. Tudo completamente sincronizado e em harmonia.
Porque é ela quem esconde o caminho que percorro por entre as matas. É ela quem apaga os rastros de meus encalços. É ela quem me abriga e protege de olhos curiosos. É ela quem molha o solo profundo de onde cavo. É ela quem abafa os gritos incessantes de minhas vítimas. E o mais importante... É ela quem lava o sangue das minhas mãos.
E ainda insistem em me perguntar por que gosto tanto da chuva.